Qual é o limite da tecnologia no campo?!

22/10/2023

Escrito por Gabriel Martins 🌾 | LinkedIn

 

A tecnologia agrícola está em pleno avanço, mas como ela será adotada pelos produtores rurais e regulamentada pelos órgãos competentes é uma questão cheia de nuances. Em uma conversa recente, discutimos sobre quando as máquinas autônomas chegariam ao campo brasileiro, entre outros pontos como a questão trabalhista e ambiental. Este texto mergulha nessa discussão, usando o exemplo da evolução da colheita mecanizada da cana-de-açúcar no Brasil como um estudo de caso. Abordamos desde os desafios tecnológicos e regulatórios até as transformações no mercado de trabalho rural. O futuro está aí, amigos, e ele traz mudanças inevitáveis — mas também oportunidades de ouro para quem estiver preparado. Vamos entender!

O Desafio

Tivemos uma discussão outro dia, em um grupo de WhatsApp, sobre qual seria o uso de tecnologia no campo e se, e quando, seriam viabilizadas as máquinas autônomas por aqui. Diante dos lançamentos mundiais, por parte das indústrias de máquinas agrícolas, de máquinas autônomas e elétricas, surgiu então a questão regulatória e, ainda, o fato de ser elétrico o motor, como isso seria “encarado” pelos produtores rurais? A questão trabalhista também veio à tona…

E, então, como irá acontecer essa migração? Porque, acontecer, vai!

Temos um exemplo muito emblemático no Brasil, que foi a colheita mecanizada da cana de açúcar no estado de São Paulo. Até o final dos anos 90 não chegávamos a 12% da área plantada no estado a ser colhida com máquinas, e isso por conta de vários fatores:

  • Era mais caro colher com máquinas – a colheita feita à mão colhia mais em 24 horas e, por consequência, era mais barato.
  • A máquina não conseguia colher cana crua – as máquinas na época não conseguiam colher a cana sem queimar e, a queimada da cana, trazia outros problemas, principalmente do ponto de vista da microbiologia do solo.
  • As máquinas eram associadas a desemprego – havia uma visão bastante distorcida da realidade, que sempre associou máquinas a uma fonte inesgotável de desemprego.

Sobre este último ponto, um desemprego que, na verdade, nem existiria na época já que em 1995/96, São Paulo que representava na época 78% de toda a cana produzida no Brasil, trazia mais de 350.000 Trabalhadores de fora em ônibus muitas vezes viajando 4 a 5 dias e noites, vindos de cidades do interior do Sertão do Nordeste. Essas chegavam em SP e a usina hospedava, muitas vezes, 3, 4 ou 5 mil pessoas em cidades que na época não chegavam a 10.000 habitantes. Agora imaginemos essas pessoas chegando em março e ficando até dezembro, com demandas como serviços médicos, alimentação, moradia, acidentes de trabalho. Isso, por vezes, gerava outros problemas sociais como alcoolismo, uso de drogas entre outros, sendo sempre uma preocupação muito grande por parte das administrações municipais.

Houve, então, uma expectativa enorme com a entrada dos protocolos que proibiam a queima da cana, pois aí o “motivo ambiental” iria forçar as usinas usarem máquinas na colheita. Ledo engano, não funcionou também, porque a máquina continuava ainda tendo problema, ela não performava na cana crua. Com a inviabilidade das máquinas na colheita da cana, tivemos várias prorrogações na “data limite” para acabar com a queimada da cana. Com a evolução tecnológica somada à redução do custo de produção, muitas máquinas passaram a performar muito bem na cana crua, sem a necessidade da queimada, quando uma máquina que até então colhia 300/400 toneladas por dia, passou a colher 700, 800 até 1000 toneladas por dia e, neste momento, a máquina começou a fazer o trabalho de 250 a 300 homens/dia e, aí sim, houve um grande impulso para que a implantação da colheita mecanizada ganhasse força na agricultura paulista.

É importante entendermos que os fatores motivacionais para essa “evolução” acabaram sendo econômicos, pois realmente ganhou impulso no momento que as máquinas se tornaram economicamente viáveis. Chega um momento que a realidade se impõe e, obviamente, isso na época foi costurado a duras penas, visto que muita gente da Imprensa questionava quantas pessoas uma máquina desempregava. A pergunta a ser feita não era essa e sim: – Qual mãe, reza pra o filho ser cortador de cana?

Já vimos mães que rezam pra o filho ser um bom mecânico, um bom líder de frente, para ser um técnico agrícola, para ser um engenheiro, para ser médico…, mas cortador de cana? Tem coisa muito mais nobre pra uma pessoa fazer e, de fato, as usinas entenderam isso, treinaram as pessoas e hoje não se pode dizer que 100% das pessoas foram aproveitadas em outras funções, mas a grande maioria das usinas utiliza essas pessoas em outras funções. Atualmente, o estado de São Paulo tem 98% de colheita mecanizada e 93% no Brasil. Essa média acaba caindo, no Brasil, porque infelizmente na região Nordeste, por uma série de limitações de ordem climática e até social, a colheita mecanizada ainda não é totalmente viável com as máquinas que existem hoje. O mais importante, nisso tudo, é entendermos que esse processo precisa ser feito de uma forma inteligente.

A Virada

Um modelo bem mais inteligente que, acredita-se ser o caminho para as máquinas autônomas, é o que se utilizou para a consolidação da agricultura de precisão, por exemplo. Se voltarmos 20 a 25 anos no tempo, quando falávamos de um trator com piloto automático e balizamento satelital, eram coisas que só se conseguia conceber imaginando algum astronauta da Nasa ou um monte de engenheiros junto com o produtor rural para conseguir fazer funcionar. E, daí, rapidamente surgiram muitas empresas de prestação de serviço, várias escolas técnicas, faculdades começaram a incorporar nos seus currículos disciplinas relacionadas aos principais conceitos e ferramentas da agricultura de precisão, preparando um público para isso. Da mesma forma as fábricas que, para não queimarem essa tecnologia, também começaram a incentivar treinamento, qualificação e a contratação de outros perfis de técnicos para atuarem nas concessionárias, onde estão os produtores. Hoje, é muito comum encontrarmos técnicos em eletrônica, muitas vezes até engenheiros de computação, centros de operação, tudo voltado para um suporte das operações que utilizam as ferramentas da agricultura de precisão incorporadas às máquinas.

Então, esse caminho certamente é um caminho que requer muito mais planejamento, muito mais articulação, algo também precisa ser feito do ponto de vista de regulamentações. Infelizmente, alguns órgãos reguladores como o próprio Ministério do Trabalho, ainda tem um pensamento jurássico com relação a isso. Hoje por exemplo, no Brasil, você pode ter um trator plantando com piloto automático, porém necessita ter alguém dentro da cabine. Essa pessoa está lá dentro, na maior parte do tempo, falando com o/a namorada/o, com a/o esposa/o, falando com os filhos, navegando em alguma rede social, pode estar fazendo qualquer coisa menos a operação agrícola, porque quem tá fazendo isso tudo é um software de informação geográfica, com um sistema de posicionamento por satélite e uma série de equipamentos e sensores que independem da boa vontade desta pessoa que está sentada ali dentro. É uma coisa completamente absurda, é algo que não tem realmente mais sentido, essa obrigatoriedade e a falta de regulação no sentido das máquinas autônomas.

O Futuro

Do ponto de vista de estratégia a argumentação fica muito mais fácil, por exemplo, se ao invés de querer uma liberação geral para todos os equipamentos e todas as aplicações, em todos os lugares ao mesmo tempo, talvez começarmos com operações mais críticas, como por exemplo liberar as máquinas autônomas para pulverização. A exemplo lá da colheita mecanizada, nenhuma mãe, nenhum filho ou filha, nenhuma esposa gostaria que a sua cara metade e viesse ao mundo para ficar aplicando inseticida, aplicando fungicida, aplicando herbicida, e com isso já vamos abrindo uma porta de adesão muito grande para essas operações autônomas e, obviamente, à medida que forem ganhando confiança, vai se estendendo para outras áreas. Claro que, da mesma forma como na colheita mecanizada da cana, para que possamos usar máquinas autônomas também temos um trabalho muito grande antes disso a ser feito. Precisamos ter tudo georreferenciado, balizado, precisa ter bandeiras de segurança e, é claro, em última análise, todas essas máquinas têm sensores que utilizam inteligência artificial, visão artificial e, às vezes, até sensores de contato como se fosse um “para-choque eletrônico” que, ao encostar nele, automaticamente a máquina para.

Resumindo, quando a realidade se impõe não tem o que segure, pode demorar um pouco mais ou um pouco menos, mas isso realmente não tem volta.

Pra finalizar, uma história que retrata um pouco de como deverá ser o futuro das máquinas. Em uma reunião presencial de uma multinacional de máquinas agrícolas, bem antes da pandemia, um representante dos concessionários norte-americanos pediu a palavra e fez uma pergunta diretamente pro CEO da empresa em um evento para quase 3.000 pessoas: – Qual é o limite da tecnologia? Onde é que nós vamos chegar, porque é computador embarcado, é satélite, é sensor, é eletrônica… Qual que é o limite disso?

O CEO parou, olhou para ele e falou: – Eu vou te responder essa pergunta, te contando o sonho que eu tive essa noite, aqui no hotel, no mesmo lugar que nós estamos. Eu sonhei que, no futuro, todas as fazendas aqui do meio oeste americano vão ter a apenas uma máquina, um homem e um cachorro.

O rapaz ficou olhando com uma cara meio desconfiada e o CEO continuou…

– É isso mesmo que você entendeu, a máquina vai ser programada para fazer tudo. Ela vai fazer o reconhecimento do terreno, planta daninha, vai fazer a correção da fertilidade do solo, PH, mistura dos nutrientes e vai fazer tudo na hora certa. Ela vai plantar na hora certa, ela fará os tratos culturais, acompanhar o desenvolvimento, se precisar algum inseticida ou fungicida ela vai aplicar. No momento de colher, quando o grão estiver no melhor ponto de maturação fisiológica, ela vai colher e levar o grão para dentro do silo para que, simplesmente, o proprietário faça a venda da produção.

O rapaz ficou olhando para ele e perguntou: – Mas a máquina vai fazer isso tudo sozinha?!

Ao que o CEO responde: – Sim, a máquina vai fazer isso tudo sozinha!

Então o homem pergunta: – Mas e o homem, vai fazer o que?!

E o CEO responde: – O homem vai dar comida pro cachorro!

O rapaz, ainda não convencido: – Dar comida pro cachorro?? E o cachorro, qual que é o papel dele?!

Então o CEO falou: – Meu amigo, o papel do cachorro é o mais importante de todos… O papel dele será não deixar esse homem chegar perto da máquina e atrapalhar o trabalho dela!

Então, produtor rural, você já tem “seu cachorro”? Já está estudando sobre as novas tecnologias, inteligências artificiais disponíveis para o campo, como aplicar no seu dia a dia, etc? Profissionais de marketing e desenvolvimento de sistemas que não estão se atualizando sobre este assunto, já estão sendo duramente impactados enquanto os que foram atrás de aprender e usar essas ferramentas, estão produzindo muito mais, com mais qualidade e em muito menos tempo.

Já passou da hora, neste momento já estamos correndo contra o tempo!

IMPORTANTE: A imagem, capa deste artigo, foi criada pela inteligência artificial DALL-E 3, que está integrada à ChatGPT atualmente, a partir da história do CEO que contei pra ela… Ficou meia boca, mas não está ruim vai?!

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